Alcoolismo - O alcóolatra

  O meu pai é alcoólatra desde que me recordo. Ele não é do tipo que fica embriagado 24 horas, não vou tirar seu crédito por ser muito trabalhador, pois ele é, mas estes episódios de embriaguez com o passar dos anos foram se tornando mais frequentes e intensos. Além disso com o tempo, passei a vê-lo de maneira diferente, cada vez mais negativamente. O que é bem ruim pois tínhamos uma relação boa de pai e filha. E o amadurecimento também faz clarear as lembranças.
  O meu pai é de uma família do interior de Goiás onde o consumo de álcool é bem comum nas reuniões, almoços, “do mamando ao caducando” como dizem bebem! Portanto, mesmo na nossa casa as reuniões sempre foram bem abastecidas de todo tipo de bebida. Eu não me orgulho disso e também não julgo quem decida beber. Eu por muitos anos bebia bastante nas saídas com amigos e festas. Mas sempre tive a decisão de não fazê-lo junto ao meu pai pois sabia do seu vício, mesmo que não fosse fazer muita diferença, sempre achei que não deveria pois desde criança sempre o cobrava muito quanto ao consumo excessivo do álcool. Recordo os dias que ele buscava meu irmão e eu na escola e passava no bar para beber, também lembro claramente quando voltávamos da chácara que tínhamos e ele embriagado ainda passava no bar para beber. Entre filhos e sobrinhos éramos 5 crianças no carro, ainda descia para pedir a ele que fossemos embora.
  É difícil assumir um alcoolismo, seja você, seu pai ou alguém que você ama. Mas admitir é um grande passo. O meu pai nunca aceitou uma internação, nem mesmo uma consulta ao psiquiatra, e como tentamos. Ainda assim em várias consultas com cardiologistas lhe foram receitados medicamentos para o controle da ansiedade e inclusive para o tratamento do alcoolismo. Medicamentos que custavam 300,00 para um mês. E ele tomava! Seguia o tratamento, mas sempre que achava certo ainda ia para o bar e logo não tomava mais remédio nenhum. É muito triste ver alguém que você ama se acabar em copos de pinga. Se o meu pai cai embriagado é uma dificuldade imensa tirá-lo do chão, sem contar no risco que corre de se ferir gravemente. É difícil controlar um adulto que ainda é dono das próprias decisões. O meu pai tem hoje 59 anos, ele é diabético e hipertenso, pesa 165 kg. Nós trabalhamos juntos, temos uma empresa. Por vezes vi meu pai chegar embriagado e resolver questões financeiras. Não o culpo pelas dificuldades que enfrentamos, mas pelas decisões que fez valer embriagado sim. Perdemos muito com isso e ainda estamos perdendo. Tenho visto muito do que conquistamos ser simplesmente levado, escoar entre os dedos.

  Sempre ouvi dizerem esta frase: “Não importa o quanto trabalho, só olham as pingas que eu tomo”. E eu interpretava da maneira que quem bebe deseja, ou seja: "Posso ser trabalhador mas me julgam só por ser alguém que bebe!" E sabe, tem coisas que só entendemos com o passar dos anos. Hoje sei que a interpretação desta frase deve ser a seguinte: "Não importa o quanto eu trabalho, mas o vício pelo álcool pode colocar tudo a perder, me tirar tudo." Sim, isso é uma realidade, desde o momento em que o álcool passa a comandar a vida de uma pessoa, não haverá mais segurança financeira, ou nas relações familiares, ou mesmo sobre os seus ideais e crenças. Infelizmente foi isso o que vi acontecer com meu pai e nossa família, dia após dia, ano após ano.


Comentários